sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dunas: Microcrédito X Preconceito


Emprego e renda são a base da dignidade humana em qualquer local, em qualquer cultura. O cidadão sem sua atividade, sem seu ofício, perde por completo sua auto-estima. A incapacidade de sustentar sua família, trás o sentimento de vergonha. Ao pedir ajuda de amigos e parentes, vem o sentimento de humilhação. Existe um orgulho ferido. Ao tardar a recolocação no mercado de trabalho vem o sentimento de medo do futuro, se já passou dos 40 é ainda mais angustiante.
Ao se deparar com este cenário, muitas pessoas descrentes com o futuro, encontram a saída nas drogas, que por sua vez sustenta a criminalidade e a prostituição. E quanto mais se entregam a estes dois “cânceres” da sociedade, cada vez mais piora sua condição de cidadão, agride sua dignidade, destrói sua estrutura familiar servindo de mau exemplo para os filhos, afastando-os da educação e criando uma nova geração de pessoas marginalizadas. Este é um ciclo que se percebe mais na periferia das cidades, não que prostituição e criminalidade não existam em outros locais, existe e possivelmente com a mesma intensidade, porém locais periféricos, bairros mais afastados em geral sofrem com um “câncer“ tão corrosivo e devastador como os já citados: O preconceito. E é exatamente neste contexto que estamos inseridos, nós moradores e trabalhadores do Dunas, sofremos com preconceito. Experimente pegar um táxi no centro de Pelotas e peça para levá-lo no Dunas, aguarde a reação do motorista, dependendo do horário certamente não vai levá-lo. O preconceito também é um dos responsáveis pela falta de investimento no bairro. Que empresa investiria em um bairro onde a violência e acentuada? Sentiria-se segura para construir, estocar mercadoria, contratar funcionários? E o gasto com segurança? Alarmes, vigias e outros. Na hora de decidir investir um empresário aposta em um bairro com fama de ser violento ou em outro que teoricamente com mais tranqüilidade?
Na sociedade (principalmente em locais de baixa renda) organização é peça chave para o desenvolvimento. No Dunas temos no CDD (Centro de Desenvolvimento do Dunas) um exemplo de organização social que visa combater muitos dos problemas da comunidade. Onde se trás os cidadãos para discutir problemas de toda a ordem e onde se desenvolvem projetos sociais para qualificar os moradores do bairro, dando-lhes melhores condições de evoluir pessoal e profissionalmente. Ou seja: o que demonstra que nosso bairro tem capacidade de se organizar.
Existem pessoas que são empreendedoras, tem visão, tem tino comercial. Pessoas que criam atividades econômicas, mesmo na crise, e trabalham por conta própria e desenvolvem empreendimentos. Aproveitam oportunidades que aparecem no mercado local, mas sobre tudo conseguem identificar estas oportunidades. Estas pessoas ao desenvolverem seus empreendimentos criam oportunidades de trabalho. O crescimento do empreendimento cria a necessidade de se buscar pessoas para trabalhar e impulsionar o negócio, isto cria um ciclo positivo: A visão que observa uma necessidade, a iniciativa de colocar em prática um negócio, a necessidade pessoal e a crença que gera a persistência de mantê-lo e sobretudo ampliá-lo fazendo com que este seja agente da transformação na comunidade, contratando pessoas e gerando emprego e renda.
Porem visão, vontade, criatividade e iniciativa, às vezes não são suficientes para o desenvolvimento de uma atividade. Para dar aquele salto, para impulsionar o negócio talvez falte um elemento fundamental: O crédito. Com crédito se pode comprar uma determinada máquina que vai aumentar a produção, pode-se fazer uma reforma que vai possibilitar atender mais clientes, pode-se comprar mais mercadorias que em uma determinada data do ano vai ser vendida com certeza, que por consequência vai aumentar o lucro e este pode ser reinvestido no negócio retomando assim aquele ciclo de crescimento.
Porém se vivemos em uma comunidade marcada pelo preconceito, onde buscar crédito para desenvolver estes empreendimentos? Vale a pena contrair empréstimos em financeiras e agiotas que cobram juros abusivos? Ficamos reféns de nossa condição social. Afinal: “ emprestar para pobre? ”, “Pobre só quer saber de futebol e carnaval”, “Pobre paga dinheiro e depois não pode pagar”.
Desde fevereiro deste ano a Juriti Microfinanças está presente no bairro Dunas com a intenção de ser a alternativa para atender a necessidade de nossos empreendedores, trabalhamos com microcrédito. Microcrédito é a forma de crédito que tem por objetivo o desenvolvimento de empreendimentos. E desenvolvendo empreendimentos se cria mais trabalho e emprego e se inverte aquele ciclo descrito no inicio do texto. Nos estabelecemos neste bairro, não por outro motivo se não pelo fato de crer nas pessoas aqui presentes, por acreditar-mos na capacidade de organização e seriedade dos empreendedores do Dunas. Além do que desenvolvendo a economia do bairro aumenta-se a auto-estima da comunidade e ajuda a eliminar preconceitos.
Quando existe trabalho sério e apoio existe desenvolvimento.
Paulo Henrique S. Silva
Agente de Crédito
Juriti Microfinanças
53-3228-0200

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